21.5.14

Despoemada

É como eu me sinto, aqui confinada nesse lugar que há muito tempo não é meu. Cheguei a conclusão que aqui ninguém sabe receber ninguém. A prioridade do dono da casa é mostrar-se dono de sua própria  - mesmo que fútil - verdade. A prioridade da dona da casa é aumentar seus desesperos pela casa em forma de mania.
Vive bem, aqui, quem aprende a aceitar. Mas a minha prioridade é não me calar diante do que não concordo.
A resolução dessa sentença está clara: aqui não há lugar para mim.
Quando eu fui embora eu já sabia e nunca esqueci.
Aqui não cabem meus horários, minhas lágrimas, meu chamego, a luz que ascendo ou apago, minha janela fechada, meu xampu, minha toalha no banheiro.
Aqui não cabem meus filmes, minha linha telefônica, meu cinzeiro, meu jeito de amar.
O mofo toma conta de tudo que não são caixas, portas, camas improvisadas, gaiolas, vasos e potes de plástico, fora os resmungos e a mania de tornar tudo maravilhoso com palavras.
Não consigo conviver com as palavras que concordam com a televisão, principalmente quando é uma maneira de amenizar a feiura do mundo.
Não! Isso não é poesia.
Aqui tenho abrigo e um esquisito amor, mas estou despoemada.

Aline F.
Fim da 5ª TPM de 2014

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