Pedra nas veias para tentar criar uma demonstração coerente de barbárie. A selvageria como uma relação entre “civilizados”. A humilhação como coragem de suportá-la.
Pedra nas veias para buscar um acontecimento teatral que negue a desumanização do indivíduo e denuncie a descaracterização consumista.
Pedra nas veias para deformar aquilo que até ontem chamávamos de teatro.
Pedra nas veias para expor cruamente, no espaço cênico, uma figuração crítica do cotidiano.
Pedra nas veias para encontrar no ator a sua desilusão, a sua frustração, a sua raiva, os seus pesadelos.
Pedra nas veias para não fazer concessões ao esteticismo burguês nem aos pregões do teatro-palavra.
Pedras nas veias para ir um pouco mais adiante na cultura de resistência. Para ousar opor-se.
texto antigo e tão atual no meu pulso... infelizmente não conheço o autor, escrito durante a luta da Arte contra a Barbárie... mais informações em: http://player.vimeo.com/video/21815104
26.8.11
4.8.11
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.do colar de Carolina,
põe coroas de coral
Cecília Meireles
4.7.11
A Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me''?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me''?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor.
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
4.6.11
27.4.11
Olhar de Dragão
A estampa branca com manchinhas pretas na canga pendurada na loja.
A roupa da mulher que passava na mesma calçada.
O Dalmata.
Inversão de cor.
E o céu estrelado da Ilha.
Os vagalumes.
Um barquinho.
O pisca alerta dos carros.
Os prédios, lá longe.
Algum helicóptero ou pequeno avião.
Substituição de cor.
O luar.
28.3.11
24.3.11
A fábula da minha vida
"Vale Tudo... o Brasil mostrava sua cara,
mas eu ainda era muito pequena pra ver
Fomos para a casa nova,
ganhei potes vazios de xampu e caixas de fósforo para brincar.
Passou o tempo o mundo não acabou
e já faz 6 anos que eu me tornei guerreira como elas...
Até que... ele cobriu com nanquim os ensaios a lápis que eu era,
realçou, tornou nítido o meu sentir,
marcou de uma forma irreparável...
Tive olhos cruéis... Mas acordei,
ciente que se pulei corda, tudo posso, desde que existam motivos...
E hoje só uma imagem distorcida
como fica o fita quando desatamos o laço...
Suspensa pelos anjos que torcem por mim."
mas eu ainda era muito pequena pra ver
Fomos para a casa nova,
ganhei potes vazios de xampu e caixas de fósforo para brincar.
Passou o tempo o mundo não acabou
e já faz 6 anos que eu me tornei guerreira como elas...
Até que... ele cobriu com nanquim os ensaios a lápis que eu era,
realçou, tornou nítido o meu sentir,
marcou de uma forma irreparável...
Tive olhos cruéis... Mas acordei,
ciente que se pulei corda, tudo posso, desde que existam motivos...
E hoje só uma imagem distorcida
como fica o fita quando desatamos o laço...
Suspensa pelos anjos que torcem por mim."
Julho/2006 - workshop de teatro épico
final muito atual ainda.
final muito atual ainda.
15.2.11
Danou-se
Danou-se!
Banalizou-se o amor.
Esse louco,
um tal de tempo,
passou.
Passou-se
e pronto.
Levou tudo.
Maldito!
Malditou-se
tornou-se
inimigou-se
dos sonhos realizados.
Banalizou-se o amor.
Esse louco,
um tal de tempo,
passou.
Passou-se
e pronto.
Levou tudo.
Maldito!
Malditou-se
tornou-se
inimigou-se
dos sonhos realizados.
escrito em 27/10/2005. faz tempo.
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