Aline F.
20.2.13
O que me deixa pálida, sem alegrias por baixo da pele, é o vão.
Há entre as pessoas enormes abismos. Cada um é uma montanha
de símbolos, sentimentos e histórias. Relaciona-las é como construir uma ponte
que ligue um abismo a outro, mas isso não pode ser feito apenas por um.
A solidão que vivo me faz observar as relações deste tempo.
E sempre penso que eu poderia ter uma boa relação, sem desrespeito, com
verdade, com compreensão... Mas não percebo essa chance em nenhum momento.
Quando um homem diz que gosta de mim, não significa que ele
se importa comigo sempre. Quando um homem diz que me ama, sei que mesmo que ele
não se importe sempre, ele tenta e se eu precisar ele vai se esforçar.
Eu queria mesmo ter um companheiro. Assim eu não precisava
medir a minha paixão, a minha admiração, a nossa relação. E eu gosto muito das
coisas desmedidas, sentidas como são, sem rotular, sem esconder.
Quando estou me relacionando com um homem que não está
disposto a ser meu companheiro sou obrigada a jogar o jogo do “não sei”. Não
sei dele, por onde anda, o que faz... Não sei o que ele sente, até que ponto me
admira... Não sei se lhe faço bem... Não sei se é apenas cômodo... Não sei se a
relação é intensa... Não sei se posso escancarar a paixão até ela se
transformar em amor... Não sei o que dizer, quando dizer, como dizer... Não
sei.
27, quase 28 anos e as pessoas me perguntam se eu quero ter
um filho. Acho que essa é uma vontade que nasce de dois, de um par. É eu penso
assim. Criar alguém sozinha seria enlouquecedor para a criança... Cresceria
para sempre só com a minha opinião. Claro que isso não é um pensamento com base
na família contemporânea em que as crianças são criadas em creches enquanto as
mães solteiras trabalham e etc e etc. Esse é um pensamento meu. Construído dentro
de mim. Sem hipocrisia é o que eu, mulher, artista, feminista, solitária,
sinto.
Quando chego em casa queria ter alguém aqui pra jantar
comigo e pra tomar café e almoçar. Alguém que leia um livro enquanto eu lavo a
louça, que faça a comida enquanto eu tomo banho, que me ajude a carregar as
compras do supermercado, que ajude a aquecer essa imensa cama de casal.
Tenho uma cama de casal que não me serve. Não sou um casal.
Se quer sou parte de um.
Eu tenho um relacionamento com um rapaz, há alguns meses.
Ele é muito do que eu espero de alguém para estar ao meu lado. Mas ele não quer
exatamente ficar ao meu lado. “Não sei” o que ele quer. Ele não me dá tanto
espaço para que as coisas entre nós caminhem. Ele me trata como uma amiga,
confidente. Acho que há desejo, cumplicidade e desapego... Aliás, “não sei” se
existem mesmo ou se são fruto da minha imaginação.
Sinto-me a vontade pra falar sobre quase tudo com ele. Menos
sobre isso. E esse é exatamente o maior problema da minha vida, a solidão. É
isso que me desestabiliza para todo o resto... Penso que se eu ficar falando
sobre isso com ele vai parecer cobrança e se ele se sentir cobrado irá embora
de vez. Não gosto de cobrar ninguém... Sempre acredito que as coisas acontecem
conforme a natureza. Talvez o erro seja esse, mas acho que não vou mudar, não
vejo sentido.
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